O medo de friagem é muito comum em nossa cultura. Existe uma crença de que o frio nos faz “gripar”, de que o vento faz mal para a saúde das crianças. É comum atendermos bebês que estão com excesso de roupa e que, por vezes, até passam calor, tamanho nosso medo. “Tomar friagem” faz mal para a saúde?
Fui buscar o que a ciência tem a dizer sobre o efeito do frio em nossa saúde. Encontrei um estudo bem interessante da Finlândia. Nele, foram analisados 6591 questionários preenchidos por indivíduos adultos em que eles avaliavam o surgimento de algum sintoma respiratório (falta de ar, tosse, chiado e alteração na produção de catarro) diante da queda de temperatura. E o que foi encontrado: a temperatura que se correlacionava com surgimento de sintomas respiratórios era bastante baixa. Para indivíduos saudáveis, entre 25 e 34 anos, não tabagistas, os cortes de temperatura para cada tipo de sintoma apresentado foram: +0,1ºC para aumento na produção de muco; -20,1ºC para tosse; -21,6ºC para chiado ou sibilos; -26,8ºC para falta de ar. Quando foi avaliada a presença de doenças prévias como asma, bronquite crônica ou enfisema pulmonar, atopias e faixa etária mais avançada, os cortes de temperatura eram mais altos, ou seja, o indivíduo tendia a iniciar um destes sintomas com temperaturas algo em torno de 0 a +5ºC.
“Tomar friagem” pode, sim, nos trazer problemas de saúde, caso as temperaturas sejam muito baixas e/ou tenhamos alguma doença respiratória prévia. É sabido que uma grande variação de temperatura pode atrapalhar a vida de crianças pequenas, principalmente se tiverem rinite ou algum quadro respiratório de base. Entretanto, é importante dosar o nosso “medo de friagem”: com as temperaturas do inverno jundiaiense, dificilmente andar descalço, tomar um sorvete ou sair ao ar livre representem um risco à saúde das crianças. Devemos tomar cuidados, sim, mas sem exageros! Nosso inverno não é tão rigoroso assim…
REFERÊNCIA:
Harju T, Mäkinen T, Näyhä S, Laatikainen T, Jousilahti P, Hassi J. Cold-related respiratory symptoms in the general population. Clin Respir J. 2010 Jul;4(3):176-85.
Texto redigido pela Dra Giovanna Gavros Palandri, Pediatra Geral e Infectologista Pediátrica.