Em situações de desastres naturais, como terremotos, tsunamis e tornados, há algumas histórias impressionantes de bebês que foram encontrados vivos após dias de busca. Um dos relatos é de 2011, após um terremoto na Turquia, em que uma lactente de 14 dias foi encontrada com vida sob os escombros após 46 horas do incidente. Outro “milagre” ocorreu em 2010, no Haiti, após um terremoto, em que uma bebê de 23 dias foi encontrada viva após ficar 8 dias soterrada. No Japão, 3 dias após a chegada de um Tsunami, um bebê de 4 meses foi encontrado vivo sob os escombros de sua casa, apesar do frio e da lama.
O que explica, em partes, a capacidade de sobrevivência destes lactentes?
Referente à tolerância ao frio pelos bebês, é sabido que, em comparação aos adultos, os lactentes têm mais tendência a perder calor – ou seja, “sentem mais frio”. Isso se deve ao fato de eles terem menos massa muscular (e, por isso, não conseguir “tremer” para produzir calor) e serem dotados de maior superfície de troca em relação ao volume que possuem. Apesar destas “desvantagens”, os bebês têm, proporcionalmente, uma quantidade maior da chamada gordura marrom, que é um tecido que é capaz de produzir calor. Os locais que mais concentram essa gordura no bebê são a região do pescoço, a parte de cima das costas (entre as escápulas), em volta de grandes vasos do coração, pescoço, região dorsal e rins. Ou seja, essa gordura recobre e protege estruturas extremamente nobres do bebê (conforme representado na figura a seguir).
A gordura marrom é o mesmo tecido encontrado em animais que hibernam no inverno.
Ou seja: a Natureza deu seu “jeitinho” de proteger mais ainda os bebês do frio! A maior presença da gordura marrom talvez explique, em partes, a capacidade de alguns bebês em sobreviver a situações tão extremas.
REFERÊNCIA:
Lidell ME. Brown Adipose Tissue in Human Infants. Handb Exp Pharmacol. 2019;251:107-123.
Texto redigido pela Dra Giovanna Gavros Palandri, Pediatra e Infectologista Pediátrica.