As estatísticas relacionadas à obesidade são cada vez mais alarmantes.
De acordo com o Atlas da Obesidade 2022, publicado pela World Obesity Federation, projeta-se que em 2030, o Brasil terá 7,7milhões de crianças obesas, cerca de 23% das crianças entre 5 e 9 anos e 18% dos adolescentes de 10 a 19 anos.
Nos últimos vinte anos, o número de crianças e adolescentes com obesidade e sobrepeso quase dobrou no mundo, o que suscita uma reflexão acerca das mudanças ocorridas e sobre o ambiente obesogênico no qual estamos inseridos.
Sabemos que a tecnologia contribuiu para que as crianças ficassem mais tempo nas telas do que nas ruas, diminuindo drasticamente o seu gasto energético e ainda sendo bombardeadas pelo marketing de alimentos hipercalóricos, por vezes ainda vinculados a personagens infantis ou atrelados a brindes. O sedentarismo também foi impulsionado pela redução no espaço físico das moradias e da segurança pública.
Com relação à alimentação, o consumo de alimentos industrializados, ultra processados e fast-food também aumentou à medida que ficaram mais acessíveis e que as famílias têm dedicado menos tempo ao preparo dos alimentos in natura.
Dados revelam que esses tipos de alimentos estão presentes na dieta de mais de 80,5% das crianças de 6 a 23 meses e de 93% das crianças de 24 a 59 meses. Fazem parte das lancheiras escolares e das cantinas que seduzem os pequenos com opções sabidamente prejudicais à saúde.
Não só a qualidade do alimento deve ser ressaltada, mas também a forma como essas refeições têm sido realizadas: com duração mais curta, em ambientes adversos e exposição recorrente às telas durante a refeição.
Outros fatores como o IMC (índice de massa corpórea) da mãe, o ganho de peso durante a gestação, bem como o período de aleitamento materno exclusivo também influenciam o risco para o desenvolvimento da obesidade infantil.
Além disso, o exemplo dos pais também se mostrou decisivo para o estímulo à adoção de um estilo de vida mais saudável. No entanto, em sua maioria obesos, acabam perpetuando hábitos sedentários e de excesso alimentar, além do modelo de educação mais permissivo que se instalou mais recentemente.
E essas expectativas podem se tornar ainda mais pessimistas quando forem contabilizadas as consequências da pandemia pela COVID-19. Durante o período de isolamento, intensificou-se o sedentarismo e a compulsão alimentar, houve ainda mais dificuldade de acesso aos serviços médicos, o aumento de doenças como ansiedade e depressão e a recessão econômica. Uma pesquisa do Centro de Controle de Doenças (CDC) do Departamento de Saúde dos EUA mostrou que o percentual de crianças e adolescentes obesos no país aumentou para 22%, em comparação com 19% antes da COVID-19.
Esse alerta é para que possamos atuar de forma mais incisiva nos fatores modificáveis da gênese da obesidade com intuito de reverter esse cenário desastroso, promovendo uma parceria mais sólida entre a equipe multidisciplinar e as famílias.
Texto redigido pela Dra Luciana Ozaki Maringolo, Endocrinologista Pediátrica.
Referências:
– World Obesity Atlas 2022
– Enani-2019