Quando se fala sobre infância, automaticamente pensamos em elementos que remetem à pureza, à inocência e até a uma certa nostalgia – um mundo completamente diferente do mundo dos adultos. O olhar da sociedade para esta etapa da vida nem sempre foi assim.
A ideia de infância que a sociedade de hoje reproduz começou timidamente a ser discutida há menos de 400-500 anos – é muito recente diante da história da humanidade. Antes disso, era comum a criança ser vista como um “mini adulto”, como é evidente nas obras de arte e representações humanas (desenhos e esculturas) até o fim do século XIII na Europa. A partir do século XIV, anjos passaram a ser retratados com traçados mais “redondos”, mais fieis à realidade infantil.
Além da questão estética, o olhar para a criança ganha outro significado a partir do final do século XVII, com um movimento de crescente escolarização. A afeição pelos pequenos cresce e os pais passam a dar valor aos estudos dos filhos, movimento que ganha força nos séculos XIX, XX e XXI. A infância ganha importância, reconhecimento, é melhor definida e entendida a partir deste período.
Se no passado as famílias tinham número elevado de filhos, com uma menor separação entre o que é público e privado, com maior sociabilidade e menor ideia de indivíduo (inclusive com maior tolerância à morte de crianças), hoje temos famílias numericamente menores, que cuidam com mais qualidade de seus descendentes, sendo praticamente intolerável a perda de um filho.
Do ponto de vista histórico, a infância nunca foi tão compreendida e valorizada quanto hoje. São inúmeras as conquistas, como o surgimento da Pediatria, a queda da mortalidade infantil, a criação de marcos legais de proteção à criança e de programas de prevenção com enfoque em público infantil, bem como escolarização em massa. A criança e sua infância finalmente ganharam a atenção e o cuidado que merecem!
Texto redigido pela Dra Giovanna Gavros Palandri, Pediatra Geral e Infectologista Pediátrica.