Síndrome de Down: vamos acabar com os rótulos?

Escrito por: admin_cp

03/21/2024

Março é o mês da Síndrome de Down, sendo o dia 21, o Dia Internacional da Síndrome de Down. Ao redor do mundo, diversos países abraçam a ideia deste dia com uma campanha anual. Cada ano é escolhido um tema relacionado a autonomia, inclusão, capacitismo, independência, entre outros. 

Por que existe um dia específico da Síndrome de Down? 

Datas específicas não tem o intuito necessariamente de comemorar algo. Servem como alerta para pontos de desigualdade, em que temos, como sociedade, buscar equiparar. Servem também como marcos para relembrar as conquistas e discutir o que falta atingir. 

Este ano, a campanha traz o título “End the Stereotypes”, sugerido no Brasil como “Chega de Rótulos”. Como disse a FBASD (Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down), são 7 bilhões de digitais diferentes ao redor do mundo. Por que, então, rotular algumas? Rótulos ou estereótipos reduzem o indivíduo a alguma característica e geralmente escondem algum preconceito. Podem conter uma ideia positiva, negativa ou neutra, baseadas em alguma experiência pessoal ou informações limitadas a respeito de uma condição. 

Ano após ano, as campanhas buscam conscientizar sobre as especificidades da Síndrome de Down, falar sobre direitos e trazer um olhar natural a respeito da diversidade. Somos todos diferentes, com características únicas, habilidades e dificuldades, certo? Para as pessoas com Síndrome de Down a vida se constrói com estas mesmas peças. 

Existem rótulos mais óbvios, mas também alguns que poucos param para pensar. Confira abaixo 8 tipos de esteriótipos que precisamos repensar: 

1. “Ele é um anjo”: esta fala esconde um pensamento caritativo, de dó ou pena, que muitos sentem em relação a estes indivíduos. A sociedade não os enxerga desta forma. Logo, se referir a quem tem Síndrome de Down como “anjo” esconde uma tentativa de amenizar a forma como as pessoas costumam enxergá-los.

2. “Eterna criança”: a infantilização é uma forma frequente de olhar as pessoas com deficiência, inclusive pelos próprios familiares. Costuma aparecer através do excesso de proteção e medo de que sofram. Entretanto, infantilizar as pessoas com deficiência impede que construam autonomia e independência e os deixa mais suscetíveis a violência como abuso sexual. Empoderar, construir auto-estima e ensinar os limites do corpo e do respeito são essenciais para amadurecer e crescer.

3. “Mongol, retardado”: termos pejorativos são frequentemente usados para se referir as pessoas com Síndrome de Down, mas também são usados como xingamentos. Esta forma mais óbvia de preconceito deve ser combatida sempre. 

4. Ir ao médico e os profissionais perguntarem somente ao familiar: o preconceito vem, muitas vezes, neste formato pouco conhecido e trazido por quem deveria sempre cuidar, profissionais da saúde. Com frequência, médicos assumem erroneamente que pessoas com Síndrome de Down não podem dizer o que sentem ou o querem para sua saúde e corpo. São deixados de lado, como se não existissem, colocando sua família para responder toda e qualquer pergunta ou tomar decisões. Além da sobrecarga do cuidador, que atinge aqueles mais próximos, esse processo piora o cuidado médico e a experiência do paciente. Relatos de nem ao menos receberem um cumprimento são frequentes por estes pacientes. 

5. “Eles são hipersexualizados sempre”: educação sexual e orientação sobre sentimentos e sensações são essenciais para prevenção de abuso e entender o limite e respeito do corpo. Além disso, o entendimento sobre esses aspectos faz com que tenhamos entendimento sobre comportamentos adequados ou não na vida adulta. Quando privamos as pessoas com Síndrome de Down, destas conversas abrimos espaços para que falas e atitudes apareçam em momentos inadequados. A sexualidade faz parte de todos. Não seria diferente para quem tem deficiência. 

6. “Eternamente dependentes”: essa ideia equivocada é repetida sem conhecimento dos avanços em saúde e inclusão atuais. Os cuidados com a saúde de quem tem Síndrome de Down, estímulos adequados às suas necessidades e a luta pelo direito à educação fizeram com que, nas últimas décadas, muitos alcançassem o ensino em escolas regulares até seu término, o ingresso em escola superior, maior autonomia para sair sozinhos, dirigir carros, entre outros aspectos da vida cotidiana tidas como corriqueiras mas que por muitos anos não era vista. 

7. “Crianças especiais”: na mesma temática do preconceito com viés de caridade, chamar pessoas com deficiências de especiais, quando a sociedade não enxerga suas questões como algo que se destaca positivamente, perpetua a ideia de que muitos tem pena pela condição. 

8. Reduzir a pessoa com Síndrome de Down a sua condição genética: Para exemplificar, vou contar uma história. Sofia, uma jovem de 30 anos com Síndrome de Down, foi ao pronto-socorro por conta de uma infecção de pele. Após receber o tratamento com antibiótico, recebeu um atestado dizendo que “deverá ficar afastada das atividades habituais devido a seu transtorno mental”. Os erros e preconceito nesse documento são inúmeros mas gostaria de ressaltar que transtorno mental e deficiência intelectual, algo que está presente na Síndrome de Down, são elementos absolutamente diferentes. Além disso, a situação clínica que motivou a procura ao PS nada tem a ver com deficiência intelectual, muito menos com algum possível transtorno mental (que poderia coexistir no paciente mas que não estava presente neste caso). Por que então correlacionar esses elementos justificando a ausência no trabalho? Muitos rótulos inadequados por parte da sociedade se acumulam, culminando em múltiplos preconceitos.

Neste 21 de março de 2024, desejo que na construção de autonomia e inclusão da sociedade, pensemos no papel dos rótulos como centrais em perpetuar o preconceito com as pessoas com Síndrome de Down.

Artigo redigido pela profissional Dra. Anna Dominguez Bohn.

Instagram: clique aqui
Site: clique aqui

Quer saber mais?